São Paulo, 13 de fevereiro de 2025

A cidade constitui-se à partir de em um mosaico de incidentes. Não há centro, não há linearidade—apenas um mapa sem legendas, onde cada linha sussurra e cada cor grita. Um carro não é mais que um reflexo de algo que já se foi; um galho, um monólito que interrompe a geometria fria do concreto. O mundo se dobra, se fragmenta, reconstrói-se em pedaços de uma sintaxe esquecida.

A ordem é uma ilusão. Aqui, o acaso é o arquiteto. Ele ergue monumentos invisíveis, esculpe formas efêmeras com uma precisão que beira o absurdo. Uma folha pousa onde não deveria; uma sombra insinua-se na estrutura errada. A cidade cria arte sem intenção, sem consciência, sem pretensão. Tudo se sustenta no quase, no erro, no instante que precede o colapso.

E então, o clarão. O instante não é capturado—é imposto. A luz do flash invade, redesenha o espaço, impõe uma nova hierarquia. O que estava oculto é arrancado à força, exposto sem contexto, sem sombra onde se esconder. Por um segundo, o urbano pertence a outra lógica—geométrica, fragmentada, desmontada.

Cada imagem é um evento suspenso, um ready-made que se recusa a ser categorizado. Não há sujeito—apenas um flâneur compulsivo, caçador de instantes impossíveis, tentando capturar o que nunca deveria ter existido. E, no entanto, existe. E, no entanto, dissolve-se. E, no entanto, persiste. Belo porque inatingível, sublime porque incompleto.

O acaso não é aleatório.
Eu não sei, mas parece que algo está prestes a acontecer...


vítor jardim​​​​​​​